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Pat Metheny
Orchestrion
CD
Nonesuch 2010

 

 

Orchestrion é o nome dado a máquinas pré-programadas destinadas a produzir o som de uma orquestra. No início do século XX estas máquinas tiveram alguma divulgação. Eram operadas por um único indivíduo com o auxílio de rolos perfurados e tubos, onde residia a programação. Podiam comandar um número razoavelmente grande de instrumentos de sopro, percussão e até cordas e piano e alguns temas de Jazz foram escritos para estas máquinas nos anos 20 e 30. Pianistas de ragtime como Jelly Roll Morton viviam bastante da venda de rolos semelhantes para música de piano que animavam os serões da burguesia. Pat Metheny refere explicitamente esta herança que o fascinou em criança, e que o levaram a querer construir uma ambiciosa orquestra de máquinas que comanda a partir da guitarra.

Embora o Jazz seja por definição avesso à programação e às máquinas, e nesse sentido dificilmente uma música assim construída caiba dentro da definição do que é o Jazz, foi com alguma curiosidade que me lancei na audição do novo "Orchestrion" de Pat Metheny. Tinha lido já sobre o disco e ouvido até alguns excertos de "Orchestrion" que me surgiram algo assépticos. Um pequeno vídeo na internet levantou-me algumas interrogações mas, ainda assim, Pat Metheny é um génio da guitarra…

O resultado é desastroso, e gostaria de fazer notar que esta minha apreciação não resulta do facto de Metheny estar a tocar com máquinas. Não pelo facto de ser ou não ser Jazz, mas pela mediocridade do objecto plástico que Metheny constrói.

O primeiro tema, precisamente "Orchestrion", uma longa peça de 15 minutos, é um pastiche pop-neoclássico-anos 70 do tipo "Tubular Bells". A evocação de Mike Oldfield está presente na estrutura da peça, no timbre xaroposo da «orquestra» e até Oldfield tocava todos os instrumentos, que é de outra forma o que Metheny faz.

A «estética» Mike Oldfield prolonga-se por todo o disco em menor grau para ressurgir no último tema, "Spirit Of The Air". Pelo meio "Entry Point" que começa como um samba triste deixa-se conduzir pela máquina dos ritmos e ora se deixa inebriar pelo som melotron, depois Expansion, onde o guitarrista se deixa finalmente reconhecer entre os MIDIS, e finalmente o melhor momento do disco, "Soul Search", um lamento que se dissolve lentamente, apenas prejudicado pela percussão metronómica.

Aparentemente Pat Metheny terá ficado fascinado com o brinquedo caro e investiu mais no gozo próprio que a dispendiosa máquina lhe proporcionou que na música.

Música ambiental, música de elevador ou de supermercado; desconfio que ainda vamos ouvir esta coisa muitas vezes.

 

Pat Metheny (g, orchestrion)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #5)